LANCHA DAS COMPRAS

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A  LANCHA  DAS  COMPRAS


          Na década de 1980 a Marinha inventou de instalar um centro de instrução nas instalações do antigo Quartel de Marinheiros (QM).

O QM era antigo mesmo! Bota antigo nisso! Foi criado em 1836 com o nome de Quartel das Companhias Fixas de Marinheiros, depois mudou de nome várias vezes até que em 1958 ficou sendo chamado apenas de Quartel de Marinheiros, popularmente conhecido por todos, em toda a Marinha, como o QM.    E como QM produziu muitas estórias para marinheiros contarem.     Na década de 70 era o terror da marujada.    Era a OM de trânsito, o que significa que todo marujo que fosse movimentado para fora de sede ou que viesse para a sede (o Rio de Janeiro) primeiramente se apresentava no QM, lá era processada toda a burocracia de transferência a qual poderia consumir uma semana, um mês, ou até mais, dependendo dum jeitinho, ou acordo, feito com a secretaria.   Quem não fazia acordo mofava a bel prazer dos escribas. Porém, bateu no QM tinha que ficar pianinho, não dar mole ou marcar touca, se bobeasse pegava bailéu sem ir pro livro nem nada e lá ficava esquecido até que o sargenteante lembrasse ao comandante cujo nome nenhum marinheiro sabia porque todos só o conheciam por Cachorro Doido.

Na década de 80, mais precisamente em 1987, a Marinha resolveu extinguir o QM, incorporá-lo às instalações da DensM e instalar ali as escolas de cursos de especialização e aperfeiçoamento de praças e trocou sua denominação para CIACM,  Centro de Instrução Almirante Cunha Moreira.  Seis anos depois, em 1993, alterou a denominação para CIAA, Centro de Instrução Almirante Alexandrino e atribuiu o nome de QM, Quartel de Marinheiros, à Superintendência de Formação de Reservistas Navais, um órgão subordinado ao próprio CIAA.

Todo esse embroglio foi para dizer que antes da criação do CIAA os cursos de especialização e de aperfeiçoamento de praças eram realizados no CIAW, Centro de Instrução Almirante Wandenkolk, localizado na Ilha das Enxadas, sem nenhuma comunicação natural ou construída com o continente.    Olhando-se do Cais da Bandeira ou do cais da Praça Mauá, vê-se a imponência da ilha que naquele tempo abrigava mais de 3.000 praças só em formação, sem contar os membros da tripulação.

Para ir para terra ou regressar para bordo o transporte era feito por lanchas ou pelo aviso, uma embarcação com capacidade para transportar até 900 pessoas por vez, cuja logística de horários tinha que ser rigorosamente planejada e o planejamento seguido à risca para que nunca pegasse.

A primeira lancha era a lancha das compras que saía invariavelmente da ilha às cinco horas para receber as compras do dia, que já aguardavam no Cais da Bandeira, e às seis já deveria estar de regresso, desembarcando a mercadoria cuja maior parte seria utilizada no rancho do pequeno almoço a partir das sete horas e quinze minutos.   Para que isso acontecesse os boys escalados para a faxina das compras precisavam ser acordados antes das quatro e meia e trabalhar com agilidade para que não houvesse atraso.

Licenciados que desejassem regressar para bordo na lancha das compras tinham seus embarques liberados logo que a faina de embarque do material fosse concluída.

Era comum alguns marujos petiscarem algumas frutas como uvas, bananas e outras durante o trajeto do cais para a ilha.   Não adiantava o Dentinho, o mestre d’armas, reclamar que a boyzada sempre aproveitava um momento de distração e filava alguma coisa na encolha.   Então o veterano mestre d’armas criou uma estratégia para evitar o farnel da boyzada: mandava todo mundo assobiar desde que a lancha desatracava do Cais da Bandeira até atracar na ilha.

Sempre havia alguns boys que diziam não saber assobiar mas o Dentinho sentenciava: quem não sabe assobiar faz o bico, não precisa sair o som, basta fazer o gesto.   E ficava a travessia toda vigiando quem não estava fazendo bico.

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